sábado, 2 de janeiro de 2016

A intervenção do Treinador!



Não vai à muito tempo alguém me questionou acerca da minha postura no treino e nos jogos da minha equipa. Questionaram a minha pouca intervenção no decorrer do treino e até comentaram que o meu treinador adjunto mandava mais na equipa que eu porque no decorrer do jogo falava mais para o campo que eu.

Fui a refletir no caminho para casa sobre isso e dei para comigo a questionar até onde vai a real necessidade de dar feedback para dentro do “terreno”. Ou melhor, qual a necessidade de estar constantemente aos “berros” para dentro do campo. Que influencia tem isso na prestação dos jogadores?

É importante o feedback? Sim, claro que sim, isso está bem definido na minha cabeça. Mas quando? Qual é a necessidade de estar constantemente a fazer-me ouvir durante o jogo/treino? “BORA, BORA”, “ISSO, ISSO”, “VAMOS, VAMOS”, etc, etc.

Qual é o beneficio de dar feedback assim que o jogador falha a 1ª vez? Melhor, qual o beneficio de parar um exercício inteiro aos berros quando um único jogador está a falhar? Será benéfico estar constantemente aos berros nos jogos/treinos e dizer absolutamente nada? Inibir os nossos jogadores de tentarem algo sem temerem levar um berro por errarem?

Em termos de treino procuro sempre ser exigente com os jogadores e espremer ao máximo as suas capacidades. Apesar disso não sou adepto de para mostrar “trabalho”, empenho no treino ou exigência, andar o treino todo aos gritos, seja a dar feedback, reforços ou o que quer que seja.

Em termos de feedback, no treino, a não ser que seja algo coletivo, procuro sempre chamar à parte quem está a falhar. Procuro que seja ele a perceber o erro que está a cometer e a melhor forma de o ultrapassar. Procuro que seja ele a descobrir o caminho por ele, em vez de lho ser eu a dar com os tais gritos para toda a gente ouvir. Ter uma conversa com ele, só com ele e não com o mundo que nos rodeia. Acredito que é muito mais benéfico para o jogador ter este feedback “ à parte” ao invés de o sujeitar à desconfiança dos seus pares e mesmo de quem está a assistir ao treino. Tento também não dar feedbacks desnecessários, se o exercício estiver a correr bem deixo o exercício rolar, sem grandes alaridos, deixo os jogadores desfrutarem do que estão a fazer pois eles sabem que o estão a fazer bem, que estão a cumprir, caso contrário estariam a ser corrigidos. Caso haja uma paragem, ai sim, dou uma palavra coletiva ou individual, de apreciação ou incentivo, dependendo do contexto.

O jogo é outro caso caricato que tenho observado. Parece haver uma necessidade de alguns treinadores mostrarem serviço e que percebem o jogo estando constantemente a falar para dentro de campo a relatar o jogo. Alguns até parecem estar a jogar Playstation. No meu entender, e pelo que tenho observado, falar constantemente para dentro de campo, estar sempre a passar mensagens aos jogadores, seja incentivo ou feedback, positivo ou negativo, faz com que eles errem muito mais e que tenham muito mais medo de tentar o que quer que seja (e para os inibir já chegam os muitos pais que estão nas bancadas). Na minha opinião é mais prejudicial que benéfico. Gosto de os deixar desfrutar do jogo tal como no treino, dar-lhes espaço para errar e aprender em competição, experimentar o que quiserem e não condiciona-los com a minha voz. Não quero que estejam constantemente à espera que eu lhes diga o que têm de fazer, qual o caminho a seguir, quero que o procurem e descubram por eles qual a melhor opção, quero que escolham uma opção por eles, porque acham que é a melhor, porque foi o que aprenderam durante a semana, e não porque eu disse que aquela era melhor.

Assim procuro também eu desfrutar do jogo dos “meus miúdos”, vê-lo caladinho no meu canto, desfrutar do meu/nosso trabalho durante a semana e ver se é bom ou mau, gosto de ver e apreciar o meu/nosso trabalho em paz e sossego.

Se eles precisarem de mim eu vou lá estar, e dar os meus feedbacks, incentivos ou reprimendas, mas não vou fazer disso um espetáculo dentro do espetáculo. Eles sabem que lá estou para isso, e eu sei que é importante para eles que lá esteja, e que tenha uma palavra para eles, mas no momento certo e não a todo o momento.


Até onde vai afinal a (boa) intervenção do treinador?

Um comentário:

  1. Uauuuuuuuuuuu!!! Adorei ler e o que li! Grande Mestre!!! Continua a ser como e quem és! Aplaudo!!! E fico muito, mas muito Feliz, Sr. Treinador!

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