Nos diversos sítios por onde vou
fazendo as minhas leituras, existe um onde os seus frequentadores falam
frequentemente de uma equipa. Não é um colosso, nem sequer um grande, é um
pequeno que joga como um grande.
Em Vallecas mora uma equipa sem
complexos, com uma ideia definida, uma ideia que é posta em prática seja contra
o Sabadell
ou contra o Real Madrid, é uma equipa que procura jogar o jogo pelo jogo, ter
bola, sair a jogar, procura marcar e não só não sofrer. Joga de igual modo
contra o Espanyol e ganha 3-0 como contra o Real Madrid e perde 10-2. Mas há
algo que o seu treinador não muda, Paco mantém se fiel aos seus princípios e as
suas ideias. E dessa forma o seu Rayo Vallecano vai sendo dessa forma uma das
equipas mais faladas e que mais gosto dá de ver jogar a quem os vê.
O que é que o Rayo, uma equipa
profissional da Liga Espanhola tem então a ver com a formação em Portugal?
Nada, ou tudo depende da perspectiva! O Rayo é uma equipa pequena, sem grande
orçamento, onde a qualidade individual é pouca (ou muito pouca). É uma equipa
que tem muito a perder, se descer de divisão perde montes de dinheiro, perde
montes de visibilidade, perde tudo e mais alguma coisa. Mas não arranja
desculpas, joga com o que tem, vai perdendo vai ganhando, mas vai se mantendo
sempre como é o seu objetivo, e o mais importante, vai trabalhando o que tem de
forma a manter a sua ideia de jogo, trabalha até à exaustão.
Em Portugal, no que toca à nossa
formação, e pelo eu fui vendo até hoje passa se exatamente o contrário. Tudo é
desculpa para a derrota, para justificar uma não vitória. Muitos dos
treinadores da formação olham para a sua equipa não por aquilo que ela é (equipa
de formação) mas sim por aquilo que queriam que já fosse (seniores profissionais).
Muitos estão mais preocupados com os resultados do que com o processo. Quando não temos uma equipa
individualmente tão forte como gostaríamos tudo serve de desculpa. Tudo menos o
nosso processo de treino.
Queixamos nos que a nossa equipa
falha passes e receções básicas, mas “passamos” os treinos a trabalhar
combinações e circulações táticas xpto em vez de criarmos situações que
favoreçam a aprendizagem desses gestos técnicos tão básicos. Queixamos nos de
sermos fisicamente inferiores, mas não procuramos dotar os nossos jogadores de
maneiras de fugir a essa diferença física. Muitos poderiam ser os exemplos dados
e muitas as justificações, mas seriam apenas isso, justificações.
O grande problema no meio disto
tudo é que devido a essa inferioridade técnica/física, em vez de nos
preocuparmos com o tal processo, o de aprendizagem do jogador, de forma a
garantir a evolução do jogador de forma a criar condições para enfrentar todas as adversidades,
preocupamos nos mais em trabalhar algo que nos aproxime mais da vitória
esquecendo de por a nossa equipa a tentar jogar e os nossos atletas a desfrutar. De forma
a evitar erros por parte dos jogadores castramos a sua criatividade e “proibimos”
que estes façam algo de diferente, que joguem, que brilhem. Optamos por os
obrigar a colocar a bola rapidamente mais perto da outra baliza, sem critério,
chutão para a frente de forma a afastar o perigo da nossa baliza. Utilizar todas as formas de ganhar, sem ser aquela que deveríamos procurar, Jogar!
Esta mentalidade faz me
confusão, se uma equipa profissional com tudo o que tem a perder e com toda a
pressão inerente opta por valorizar o espetáculo e o jogador porque é que nós
na formação, sem pressão dos resultados (teoricamente obvio…) optamos por
desvirtuar o contexto em que estamos inseridos?
Olhemos para Vallecas, para o
Rayo e para Paco como os reais exemplos a seguir, e seguramente no futuro
teremos atletas evoluídos e capazes de se adaptarem a todos os contextos, alem
de que haverá também a valorização do treinador, que para muitos parece
ser a principal preocupação com o seu trabalho na formação.
Antes de mais, parabéns e bem vindo ao mundo dos blogs!
ResponderExcluirEm relação a Vallecas, desconfio que quando Paco sair, não vamos ver um treinador de perfil semelhante... Porque em 99% dos clubes de futebol (pelo menos cá) ninguém que contrata percebe os fundamentos do jogo e tem ideias do que quer (para além de ganhar).
E já agora, para se ser como Paco é preciso ser-se louco. Nada do que ele tem aponta na direcção que ele quer. Mas é por isso que adoro o seu trabalho. Se ele joga xadrez com peças de damas, imagina quando tiver um tabuleiro completo...