domingo, 10 de janeiro de 2016

Vallecas e a Formação em Portugal


Nos diversos sítios por onde vou fazendo as minhas leituras, existe um onde os seus frequentadores falam frequentemente de uma equipa. Não é um colosso, nem sequer um grande, é um pequeno que joga como um grande.

Em Vallecas mora uma equipa sem complexos, com uma ideia definida, uma ideia que é posta em prática seja contra o Sabadell ou contra o Real Madrid, é uma equipa que procura jogar o jogo pelo jogo, ter bola, sair a jogar, procura marcar e não só não sofrer. Joga de igual modo contra o Espanyol e ganha 3-0 como contra o Real Madrid e perde 10-2. Mas há algo que o seu treinador não muda, Paco mantém se fiel aos seus princípios e as suas ideias. E dessa forma o seu Rayo Vallecano vai sendo dessa forma uma das equipas mais faladas e que mais gosto dá de ver jogar a quem os vê.

O que é que o Rayo, uma equipa profissional da Liga Espanhola tem então a ver com a formação em Portugal? Nada, ou tudo depende da perspectiva! O Rayo é uma equipa pequena, sem grande orçamento, onde a qualidade individual é pouca (ou muito pouca). É uma equipa que tem muito a perder, se descer de divisão perde montes de dinheiro, perde montes de visibilidade, perde tudo e mais alguma coisa. Mas não arranja desculpas, joga com o que tem, vai perdendo vai ganhando, mas vai se mantendo sempre como é o seu objetivo, e o mais importante, vai trabalhando o que tem de forma a manter a sua ideia de jogo, trabalha até à exaustão.

Em Portugal, no que toca à nossa formação, e pelo eu fui vendo até hoje passa se exatamente o contrário. Tudo é desculpa para a derrota, para justificar uma não vitória. Muitos dos treinadores da formação olham para a sua equipa não por aquilo que ela é (equipa de formação) mas sim por aquilo que queriam que já fosse (seniores profissionais). Muitos estão mais preocupados com os resultados do que com o processo. Quando não temos uma equipa individualmente tão forte como gostaríamos tudo serve de desculpa. Tudo menos o nosso processo de treino.

Queixamos nos que a nossa equipa falha passes e receções básicas, mas “passamos” os treinos a trabalhar combinações e circulações táticas xpto em vez de criarmos situações que favoreçam a aprendizagem desses gestos técnicos tão básicos. Queixamos nos de sermos fisicamente inferiores, mas não procuramos dotar os nossos jogadores de maneiras de fugir a essa diferença física. Muitos poderiam ser os exemplos dados e muitas as justificações, mas seriam apenas isso, justificações.

O grande problema no meio disto tudo é que devido a essa inferioridade técnica/física, em vez de nos preocuparmos com o tal processo, o de aprendizagem do jogador, de forma a garantir a evolução do jogador de forma a criar condições para enfrentar todas as adversidades, preocupamos nos mais em trabalhar algo que nos aproxime mais da vitória esquecendo de por a nossa equipa a tentar jogar e os nossos atletas a desfrutar. De forma a evitar erros por parte dos jogadores castramos a sua criatividade e “proibimos” que estes façam algo de diferente, que joguem, que brilhem. Optamos por os obrigar a colocar a bola rapidamente mais perto da outra baliza, sem critério, chutão para a frente de forma a afastar o perigo da nossa baliza. Utilizar todas as formas de ganhar, sem ser aquela que deveríamos procurar, Jogar!

Esta mentalidade faz me confusão, se uma equipa profissional com tudo o que tem a perder e com toda a pressão inerente opta por valorizar o espetáculo e o jogador porque é que nós na formação, sem pressão dos resultados (teoricamente obvio…) optamos por desvirtuar o contexto em que estamos inseridos?

Olhemos para Vallecas, para o Rayo e para Paco como os reais exemplos a seguir, e seguramente no futuro teremos atletas evoluídos e capazes de se adaptarem a todos os contextos, alem de que haverá também a valorização do treinador, que para muitos parece ser a principal preocupação com o seu trabalho na formação.

Um comentário:

  1. Antes de mais, parabéns e bem vindo ao mundo dos blogs!
    Em relação a Vallecas, desconfio que quando Paco sair, não vamos ver um treinador de perfil semelhante... Porque em 99% dos clubes de futebol (pelo menos cá) ninguém que contrata percebe os fundamentos do jogo e tem ideias do que quer (para além de ganhar).
    E já agora, para se ser como Paco é preciso ser-se louco. Nada do que ele tem aponta na direcção que ele quer. Mas é por isso que adoro o seu trabalho. Se ele joga xadrez com peças de damas, imagina quando tiver um tabuleiro completo...

    ResponderExcluir